Direito a Deus

Transgêneros: Bíblia e Ciência contra a Transfobia Religiosa

Estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP revelou que mulheres trans possuem um tamanho reduzido em uma área do cérebro chamada ínsula

Ínsula - Foto: Reprodução
Ínsula - Foto: Reprodução

No ano de 2018 o Jornal da USP divulgou o resultado de um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 80 pessoas voluntárias, sendo 20 mulheres cis, 20 homens cis, 20 mulheres trans que ainda não haviam usado hormônio e 20 mulheres trans em uso de hormônio.

Foi o primeiro estudo feito na América Latina que investigou os volumes cerebrais de transgêneros. O objetivo era investigar diferenças de volume da substância branca e cinzenta, a partir de imagens de ressonância dos cérebros das 80 pessoas (entre 18 e 49 anos).

O resultado apontou nos dois grupos de mulheres trans um tamanho reduzido em uma área cerebral chamada ínsula, em ambos os hemisférios cerebrais. A ínsula é uma região muito importante, entre outros aspectos, para a percepção do próprio corpo.

O tamanho da ínsula se apresentou diminuído em relação aos homens cisgêneros, mas não em relação às mulheres cis. Ou seja, mulheres trans e mulheres cis apresentaram a ínsula com tamanho reduzido.

Nessa linha, observou-se que “as pessoas trans têm características que as aproximam do gênero com que se identificam e seus cérebros têm particularidades, sugerindo que as diferenças começam a ocorrer durante o período gestacional“.

Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria (IPq) do HC e coorientadora do estudo, disse que uma importante contribuição da pesquisa é demonstrar que a transexualidade “não implica só uma questão de comportamento que a pessoa desenvolve”. “Observamos que há especificidades cerebrais nos indivíduos trans, achado importante, frente à ideia de ideologia de gênero. Vai sendo demonstrado que não se trata de uma questão de prática ideológica. Pelo que constatamos, por meio das imagens por ressonância, uma base estrutural é detectável”.

A ínsula é uma região muito importante para a percepção do próprio corpo, entre outros fatores. Isso porque essas percepções – inclusive sensações corporais internas e sensações viscerais – são mapeadas no sistema nervoso central pela ínsula.

Como ambos os grupos de mulheres trans apresentaram variação nesta estrutura, parece ser uma característica das mulheres trans.

Outra conclusão do estudo é que não foi o tratamento hormonal que se mostrou relacionado ao volume diminuído da ínsula.

É importante lembrar que não existe um cérebro tipicamente feminino ou masculino. O que ocorre são ligeiras diferenças estruturais, muito mais sutis do que a diferença das genitálias, por exemplo. Há também uma grande variação individual nas estruturas cerebrais”, disse Giancarlo Spizzirri, um dos autores do artigo publicado na revista Scientific Reports.

Spizzirri ressaltou que estudos anteriores observaram nos indivíduos transgêneros que a diferenciação sexual do cérebro não acompanha o resto do corpo.

Esperamos que esse estudo seja replicado com amostras maiores, mas já se pode afirmar que essa hipótese do desenvolvimento da transgeneridade encontra respaldo e merece ser mais investigada”, disse Carmita Abdo.

Pois é. Estaríamos diante de uma situação na qual Bíblia e Ciência estão andando de mãos dadas contra a transfobia? Entendo que sim.

Não é à toa que, a despeito de Deus ter feito macho e fêmea, Ele os chamou pelo nome masculino Adão, no dia em que foram criados. (Gênesis 5:2)

Também não deve ser à toa que Paulo diz em Gálatas 3:28 que em Cristo não há mulher nem homem, pois somos todos um. Podemos não ser socialmente, mas somos em Cristo.

Do mesmo modo, não deve ser à toa que Jesus, ao falar dos acontecimentos futuros, não fez qualquer menção do tipo “porque nos últimos tempos haverá um grupo de pessoas dizendo serem o que não são, distorcendo a obra criadora, descrita no gênesis”.

Essas passagens bíblicas descrevem de forma evidente que gênero é uma questão para os seres humanos, que tudo complicam, mas não é uma questão para Deus.

A verdade é que a questão da identidade de gênero não é comportamental. Aliás, comportamental é a transfobia. O Brasil é o país que mais mata pessoas trans exatamente por causa do comportamento criminoso e cruel gerado pela transfobia. Mas a ciência está demonstrando que há evidências sim de características biológicas que geram a não identificação do gênero com o sexo registrado no nascimento.

O grupo de pesquisadores pretende desenvolver mais estudos, inclusive para situar em que ponto do desenvolvimento ocorrem as diferenças. “Uma vez que detectamos essas diferenças, a pergunta é: a partir de quando elas se instalam? Interessa, entre outros aspectos, pesquisar imagens cerebrais de crianças e jovens que manifestam características trans e comparar com aquelas das mulheres trans adultas”, disse Abdo.

A matéria completa pode ser encontra no site https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-biologicas/estudo-investiga-estrutura-cerebral-em-individuos-transgeneros/

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