A alagoana Suhan Torres de Albuquerque, de 69 anos, precisou de muita coragem e força para lutar contra o preconceito e se manter firme para resistir à ditadura militar. Para isso ela adotou em sua vida o mesmo lema que usa para cuidar de sua casa.
“Minha casa é como um templo, só recebo quem eu confio. Sou muito de energia”, diz Torres. Artista plástica e dançarina de flamenco, atualmente Suhan vive em um apartamento no Conjunto José Tenório, em Maceió, capital do estado de Alagoas. Em entrevista concedida ao G1, ela compartilhou momentos que viveu durante a ditadura e a sua trajetória.
A artista relatou que, durante o período, estava em sua adolescência e ainda vivia com os pais. Ela relata que enfrentou muitas situações difíceis com a sua família. “Era muita repressão, as pessoas se relacionavam escondidas. Também houve muitas mortes, violência, sumia muita gente. Muitos jornalistas, homossexuais, travestis, integrantes de movimentos sociais desapareciam. Até hoje ninguém sabe onde estão seus corpos. Lembro que um grupo de estudantes de uma faculdade, que lutava por direitos, que desapareceu”, relatou durante a entrevista.
Mulher trans, Suhan ainda compartilhou um acontecimento de quando tinha apenas 14 anos e buscou ajuda profissional. “Nos meus 14 anos, quando minha sexualidade e identidade estavam afloradas, fui a uma psiquiatra e ela disse na minha cara que eu nunca seria uma mulher. Na época, pessoas afeminadas e mulheres trans eram jogadas em manicômios, porque as famílias achavam que elas tinham problemas mentais, que não prestavam”, relembra Torres.
“Sabe, as pessoas não têm que aceitar, mas é obrigação respeitar”, diz Suhan, ao fazer uma reflexão a respeito do grande preconceito que ainda existe nos dias de hoje.