O dia 29 de janeiro é marcado pela comemoração do dia nacional da Visibilidade trans. A data foi escolhida após um grupo de ativistas transexuais, em um ato político que marcou a história, se dirigirem até o Congresso Nacional em manifestação a favor do respeito à diversidade e à identidade de gênero, no ano de 2004.
Agora, 18 anos depois da criação do dia da Visibilidade Trans, o Miss Beleza T Brasil comemora a importância da data buscando dar a mulheres trans de todo o país o reconhecimento e visibilidade que merecem. Idealizado no ano de 2018, o concurso só conseguiu alavancar e acontecer de fato em 2019. Em um papo exclusivo com o Observatório G, os organizadores e as participantes do evento falaram sobre a importância da existência do concurso para a população trans e travesti.
“O concurso surgiu em 2018, em um grupo de amigos, mas a gente só saiu mesmo em 2019, por conta de alguns problemas como patrocínio e tudo mais. E aí a partir de 2019 a gente conseguiu colocar o carro na rua, com todas as dificuldades que têm pra qualquer evento do público LGBTQIA+, mas com o preconceito ainda mais reforçado”, disse Jonathan Lopes, um dos organizadores do Miss Beleza T.
“Por causa do estigma, eles associam demais à travesti, porque a gente não poupa aqui o nome travesti, a gente fala muito. Porque eles precisam identificar a identidade travesti e deixar de problematizar, e de colocar a travesti como uma mulher de rua, e ajudar realmente a mulher que está na rua”, ressalta.
Eloá Rodrigues, vencedora do Miss Beleza T Brasil 2020, também falou a respeito da importância que o evento teve em sua vida e o quanto ele ainda tem para oferecer a outras mulheres trans. “Acho que tem muitos significados a existência do concurso. Acho que primeiro é romper um ciclo de violência que foi estabelecido para a população de travestis e transexuais, de determinar um lugar que a gente poderia estar. Então, quando se pensa nessa existência de pessoas trans e travestis, geralmente é uma existência muito marginalizada, muito precarizada”, inicia a miss.
“E a gente ter a possibilidade de colocar na rua um nome tão forte que é o Miss Beleza T Brasil, que reverencia e exalta belezas das mais diversas possíveis, eu acho que é de muita importância. É uma quebra de fato, desse espectro que foi criado, e aí eu acho que pelo fato de poder observar diversas belezas, de diversos estados e de diversas possibilidades de existência, a gente acaba aprendendo muito. Eu acho que é muito importante para as futuras gerações, eu sempre penso nessa construção de um legado, e o nome Miss Beleza T Brasil acaba abrindo muitas portas, para que futuras gerações tenham uma realidade mais tranquila”, completa Eloá.
Além da Miss Beleza T Brasil 2020, outras 25 meninas de diversos estados do país estão em confinamento para realizar as atividades necessárias até o dia do concurso. Entre elas, encontra-se Alice Ridenn, que representa o estado de Pernambuco na busca pela coroa. “Eu sempre sonhei muito com esse momento, porque eu sempre acompanhei, e ano passado eu me senti preparada, senti que estava apta a viver esse momento. Decidi me inscrever e graças a Deus fui selecionada”, diz a miss Pernambuco.
Alice tem 21 anos e trabalha no setor de Direitos Humanos da cidade de Surubim. Em conversa com o Observatório G, ela compartilhou como tem sido a experiência de participar do concurso. “Para mim tem sido incrível conhecer mais 25 meninas com histórias diferentes, de culturas e estados diferentes. Eu costumo falar que o concurso é uma festa que reuni 26 mulheres travestis e transexuais para celebrar a nossa existência e a nossa vida, no país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Porque aqui no Brasil, além das queimadas que nós temos no Amazônia, nas nossas matas, a gente tem travestis sendo queimadas vivas, e isso é muito grave”, declara Ridenn.
“Então é importante nós valorizarmos esses momentos em que estamos juntas, para mostrar a nossa força e mostrar que realmente, unidas a gente pode fazer com que a nossa luta atinja outras comunidades. Para que eles consigam se conscientizar e saber quais são os nossos direitos, e se tornarem pessoas aliadas à nossa causa também”, finaliza a miss.
A representante do Rio de Janeiro, Alice Maria, de 23 anos, contou que desde muito nova sempre teve o sonho de participar do concurso de miss e também ressaltou a importância que ele tem para a população trans. “Sempre sonhei em participar do concurso, desde muito nova, nos meus 15 anos de idade, quando vi a primeira miss no Miss International Queen”, conta a miss Rio de Janeiro.
“A importância desse concurso é que ele é um grito de resistência, para mostrar para outras meninas que estão na rua, ou meninas que não conseguem se enxergar no meio social pela falta de representatividade, que elas podem ocupar os espaços que elas quiserem. Até porque, cada miss que está aqui tem uma história, não é só uma miss, é uma cabeleireira, uma filha, uma neta, é uma namorada, uma professora. Eu por exemplo, trabalho com moda, sou bolsista, passei em segundo lugar no PROUNI, estou em uma universidade e represento 4% da população de pessoas trans que estão na universidade. Então, é você mostrar para essas meninas que elas têm um espelho, elas têm uma inspiração e que elas são capazes de tudo” completa Alice Maria.
Durante o ano de 2021, não foi possível a realização do concurso devido a pandemia da Covid-19, que teve como medida de segurança o isolamento social, paralisando milhares de eventos no Brasil e no mundo. Agora em 2022, o Miss Beleza T Brasil volta para realizar sua próxima edição no mês e no dia da Visibilidade Trans, no dia 29 de janeiro, e terá transmissão ao vivo através do canal do concurso no Youtube, a partir das 19h.