Entrevista: André Leite Suzano
O youtuber Guigo Kieras, criador do canal “Fora da Casinha”, trata especificamente de temáticas voltadas ao público LGBTQI+ em seu canal. Guigo foi covardemente agredido, protagonizando um caso explícito de homofobia pela polícia militar de São Paulo no último sábado(9). Até o momento, nenhuma autoridade ou responsável entrou em contato com Kieras.
-Foi noticiado que após o Bloco Largadinho da Claudia Leitte, você foi brutalmente atacado por polícias militares. O que aconteceu de fato?
No sábado, durante o show da Claudia Leitte em São Paulo, começou a chover muito. Eu e um amigo estávamos “perdidos” do restante da nossa turma, e resolvemos correr pra debaixo de uma marquise para se abrigar. Na primeira marquise que nós paramos, tinham mais ou menos 10 polícias e um deles proibiu que eu ficasse ao lado deles, debaixo da mesma cobertura contra a chuva. Primeiramente eu não questionei e fui pra debaixo duma árvore há 2 metros de distância dos polícias. Assim que nós paramos, nos abraçamos para ficarmos juntos nos protegendo da chuva. Não satisfeito o policial veio novamente até mim e disse: “Vocês também não podem ficar aqui!”, e desta vez eu perguntei o motivo. E indaguei: “Vocês estão protegidos da chuva, eu não estou. Por que eu não posso ficar aqui, agora?”, logo após ele começou a me bater e o restante dos polícias militares de plantão me agrediram também com cacetete, chutes e socos e um deles me deu um “mata-Leão” que me desmaiou. Logo que acordei, eu estava transtornado! Eu passei por uma cirurgia na boca devido às agressões, e estou cheio de machucados e hematomas.
– Por qual motivo você acredita que você foi o escolhido para ser vítima de agressão? (o seu amigo não foi agredido).
Na verdade, o meu amigo foi agredido também! Só que ele conseguiu escapar, de dispersou dos policiais. Eu corri em direção à multidão do show, mas eles correram e me pegaram e arrastaram pra perto dos carros da PM e me malharão. Eu não posso afirmar, mas acredito e tenho a convocação que o motivo é homofobia. Eu e meu amigo nos abraçamos e fomos agredidos.
– Guigo, para quem não te conhece, você possui um canal no YouTube sobre a vivência e curiosidades do mundo LGBT, certo? Dentro do seu canal você já havia tratado de assuntos pertinentes a homofobia ou já havia conversado com vítimas de agressões, por exemplo?
Eu já abordei o assunto da inferiorização psicologia a qual a maioria dos gays sofrem e a homofobia já foi pauta varias vezes também. Mas eu acredito que foi pouco e a forma abordada não fora o suficiente. Eu já estou planejando um vídeo autoexplicativo para que todos saibam como devem se proteger e cobrar seus direitos em caso de agressões.
– Quais procedimentos jurídicos você tomará agora?
Até então nós prestamos o boletim de ocorrência, levamos o caso à corregedoria de São Paulo e os demais processos correm em sigilo. O meu advogado é quem está tomando conta de tudo isso.
– Você não tem medo de sofrer represália novamente nas ruas?
Eu tenho, eu estou apavorado na verdade. Quando eu vejo um policial na rua, eu abaixo a cabeça, tremo, pulo de susto. Mas eu tenho mais medo ainda do que pode acontecer com outras pessoas e de forma pior. Por isso que eu estou usando o espaço que a mídia está me dando e o alcance que tenho graças às redes sociais e o YouTube para alertar o próximo e cobrar mudanças.
– Após o espancamento gratuito por motivo fútil e motivado por ódio, o que esse episódio mudará na sua vida pessoal e profissional?
Eu estou perdido ainda, eu iria lançar um videoclipe nesta semana. Eu estou trabalhando para entrar na indústria musical, e tudo teve de ser parado devido a agressão que sofri. E eu não quero misturar as coisas!
Na minha vida pessoal, eu amadureci muito nesse últimos dias e percebi de fato sobre a quantidade de pessoas que passam por isso diariamente e não são vistas, não recebem atenção bem espaço para protestar contra isso.
– Você acredita que mais do que nunca é preciso bater na tecla da criminalização homofobia e pedir por proteção pelo estado?
A criminalização é necessária, infelizmente o povo só te respeita caso possa vir a sofre alguma coisa. Está cada vez mais difícil fazer com que enxerguem e entendam que somos todos iguais. E quem não sofre precisa entender que existem pessoas desfavorecidas socialmente e necessitam da proteção da lei.