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O feminismo radical exclui mulheres trans?

Cada período aventou premissas que compunham a realidade sociocultural da época

Mulheres
Mulheres, movimento

Resumidamente, o feminismo se apresenta como um movimento em busca de equidade, que repudia e luta contra o tratamento que, historicamente, inferiorizou mulheres em detrimento de homens. Nesse sentido, dividiu-se de várias formas e trouxe diferentes visões, tendo em vista que a mulher, que não é um grupo homogêneo, tem a sua subjetividade. Antes da responsabilidade coletiva existe o processo de individuação, no qual o pensar é o próprio Si-mesmo e cada uma enxerga a realidade e a vivencia de forma distinta.

Em termos atuais, por exemplo, tem feminista que não acha legal mulher postar foto pelada pois acredita que isso objetifica o gênero, outras já reverenciam e defendem que é uma forma de liberdade e poder sobre o seu corpo.

Contexto

Pré- feminismo que alguns chamam de Protofeminismo,  a primeira onda, segunda onda, terceira onda, cada período aventou premissas que compunham a realidade sociocultural da época. A terceira onda teve o seu advento em torno de 1990, e é no seio desta movimentação que houve e expansão da tecnologia, do protesto punk de contracultura. Kimberlé Creenshaw, em 1989, introduziu o conceito de interseccionalidade e Judith Butler desenvolve sua teoria queer em 1990. Para Butler, quando somos crianças começamos a encenar determinado gênero. Assim, no decorrer da vida, continuamos encenando esse gênero, o que nos leva a crer que ele é fixo.

Hoje, algumas mulheres que se denominam como feministas radicais preceituam que usar gênero em vez de sexo gera o apagamento de mulheres cis. No Instagram Vulva Negra, sua criadora identifica o feminismo radical como algo proveniente da própria raiz, isto é, que entende que a mulher sofre opressões específicas do sexo e, para alcançar um patamar de equidade, visa combater a maternidade compulsória, exploração sexual, cultura do estupro, dentre outras coisas. Patrícia Lélis tem levantado esta bandeira também.

Porém, muitas ativistas da vertente, em nome dessa “pureza do movimento”, ecoam um discurso que intensifica ainda mais a violência contra pessoas trans.

Em síntese, feministas radicais compreendem que as suas demandas e o desprezo pelo feminino é algo ligado e específico do sexo feminino historicamente. Como o próprio nome sugere, este pensamento tem a sua raiz e seus princípios basilares.

Teóricas

“O conhecimento deste caso deve chamar-nos a atenção para o fato de que as distinções sociais e políticas não estão baseadas na riqueza ou na posição social, mas no sexo. Porque é evidente que a base da nossa civilização é o patriarcado”, livro Política Sexual, Kate Millett, 1970.

Em sua obra, Kate cita o psicanalista Sigmund Freud e sua ideia de que a mulher morre de “inveja do pênis”.  Segundo Freud, em linhas bem gerais, a mulher culpa a sua genitora pela falta de pênis no seu corpo. Dentro da psicanálise freudiana, a angústia de castração (Kastrationsangst) alude a um medo inconsciente da perda do pênis originário durante o Estágio fálico do desenvolvimento psicossexual e transcorre a vida inteira. Milett também fala da mulher e os preceitos bíblicos, como se a bíblia, de certa forma, detestasse a vagina, sinalizando o desprezo da religião cristã desde a antiguidade.

De acordo com tratado Hipocrático, o corpo da mulher era inacessível aos médicos. Desse modo, tudo o que se sabia eram apenas confissões de parteiras e pessoas que tivessem acesso a esse universo íntimo e intocável. Era impensado crer, por exemplo, que duas mulheres juntas conseguissem fazer sexo.

Mary

 Não é necessário que eu recorde continuamente que falo da condição de todo o sexo, deixando as exceções fora de questão. Os sentidos das mulheres são inflamados, e seus entendimentos, negligenciados. Por consequência, elas se tornam presas de seus sentidos, delicadamente chamados de sensibilidade, e são arrastadas por qualquer arroubo momentâneo de sentimento, Mary Wollstonecraft, Reivindicação dos Direitos da Mulher.

Muitas das feministas expuseram seus pensamentos que dimanam da premissa de que a opressão feminina é algo que perpassa toda a sua criação e o seu ‘papel’ na sociedade enquanto mulher.

Algumas, mais contemporâneas, manifestaram expressamente oposição às mulheres trans. 

Sheila Jeffreys busca desenvolver em Gender hurts uma crítica provocativa sobre o movimento de pessoas trans. A cirurgia transexual poderia ser associada à psiquiatria política na União Soviética. Sugiro que o transexualismo deve ser melhor visto sob essa luz, como um abuso médico, diretamente político, aos direitos humanos. A mutilação de corpos saudáveis e a sujeição de tais corpos a tratamento contínuo, perigoso e ameaçador à vida violam os direitos dessas pessoas de viver com dignidade no corpo em que nasceram, o que Janice Raymond se refere como seus corpos “nativos” , disse ela, num artigo no journal of lesbian studies.

 Germaine Greer, que logrou-se internacionalmente como uma das mais importantes feministas do século XX disse:

Só porque você cortou seu pa* e usa um vestido , isso não te faz Mulher . Se eu pedir pro meu Médico que me dê Orelhas longas e Machas e vestir um Cassaco Marrom , isso não me fará um Cocker Spainel”.

Andrea Rita Dworkin, que faleceu de insuficiência cardíaca em 2005, aos 58 anos, foi uma das radicais feministas mais notórias do mundo. Ficou afamada pela sua luta contra a indústria pornográfica e acabou comprando briga com feministas liberais.

Toda dominação pessoal, psicológica, social e institucionalizada nessa terra pode ser remetida a uma mesma fonte original: as identidades fálicas dos homens.“ Discurso proferido na Universidade Estadual de Nova Iorque, Stony Brook, em 1 de março de 1975. “The Rape Atrocity and the Boy Next Door,” cap. 4, Our Blood (1976).

Feminismo trans

Um excerto da explanação Feminismo transgênero e Movimentos de Mulheres Transexuais diz – O  conceito  de  gênero  aplicado  ao  feminismo  possibilitou  a  desconstrução  da  crença  de  que  há um modelo universal de mulher, abrindo a possibilidade para a construção das identidades de gênero (BENTO, 2006). A partir das novas ideias e comportamentos trazidos com o movimento feminista, a percepção sobre quem são as mulheres se ampliou, deixou de apenas se remeter à mulher branca, abastada, casada com filhos, e passou a acatar a humanidade e a feminilidade de mulheres outrora invisíveis: negras, indígenas, pobres, com necessidades especiais, idosas, lésbicas, bissexuais, solteiras, e mesmo as transexuais. Berenice Bento é referência para os estudos recentes de gênero. 

Transexual refere-se especificamente a pessoas que transicionam permanentemente de um sexo para outro, geralmente através de um ou mais tratamentos médicos, como terapia de reposição hormonal e/ou cirurgia de reconstrução genital, geralmente junto com mudanças legais e sociais, como mudança legal de nome e documentação, mudança na apresentação de gênero (roupas, maquiagem, etc.), treinamento de voz e assim por diante.

Em relação à história, Lili Elbe foi uma pintora trans dinamarquesa, retratada no filme Garota Dinamarquesa, uma das primeiras receptoras documentadas de cirurgia de redesignação de sexo.

Cada  indivíduo  tem  o  direito  de  definir  suas  próprias  identidades  e  esperar  que  a  sociedade as respeite. Isso também inclui o direito de expressar nosso gênero sem medo de discriminação ou violência. Em segundo lugar, temos que ter o direito exclusivo de tomar decisões sobre nossos próprios corpos, e que nenhuma autoridade política, média ou religiosa violará a integridade de nossos corpos contra nossa vontade ou impedir nossas decisões acerca do que fazemos com eles”, Emi Koyama, ativista, artista e acadêmica independente. 

confira também – 8M: Lésbicas radicais, bi e trans ressaltam as suas demandas no 8 de março

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