Natal
Sungas, cuecas e chinelos
com 50% de desconto
enquanto durar os estoques
Utilize os cupons:
SUNGASPRIDE
CUECASPRIDE
CHINELOSPRIDE
Natal Pride Brasil
Cultura em debate

Representação de minorias ‒ queerbaiting e futuro da mídia Z

Ícones da geração Z mantêm mistério sobre vida privada, mas criam debate sobre representação minoritária que ignora a complexidade do tema.

Publicado em 18/03/2024
Paul Mescal (direita) e Andrew Scott em cena. Imagem: Searchlight Pictures/Everett Collection.

O ator de Todos Nós Desconhecidos, Paul Mescal (Pessoas Normais), compartilhou para o Times sua opinião sobre atores hétero em papeis gays.

Antigamente, atores queers faziam papeis hétero, escondendo sua vida privada com relacionamentos de fachada. 

Na Hollywood preto-e-branco, filmes escondiam seu significado debaixo de grossas camadas de subtexto.

Isso porque a representação de homossexuais era escassa e preconceituosa, disseminando estereótipos.

Assim, atores gays viam sua permanência no armário como condição para os papeis de destaque.

Rock Hudson, galã dos anos 50 e amigo de Doris Day, é um caso famoso:

Rock Hudson em foto publicitária. Imagem: PHOTOFEST/HBO

Hoje em dia é diferente 

Anos depois, celebridades como Paul Mescal agora defendem que a sexualidade do ator não devia ser um impedimento ao casting.

Por um lado, ele tem razão, pois essa foi a luta da classe artística queer por anos, isto é, eles quiseram que a sexualidade não fosse impeditivo.

Atores hétero, no entanto, ainda têm maior privilégio na hora do casting, pois a heterossexualidade é fetichizada pela comunidade gay.

Quando Mescal opina que homens deveriam ser mais vulneráveis, sua imagem lucra com os símbolos da homossexualidade, e sua gama de papeis apenas aumenta.

Andrew Scott, homossexual e parceiro de cena de Mescal em Todos Nós Estranhos, vai nessa onda. Acredita que atores devem ser escolhidos sem considerar a sexualidade.

É claro que os dois não estão falando da mesma coisa.

Entretanto, ambos os artistas se esqueceram de que vivemos em tempos de relações parassociais.

O que é relação parassocial

Uma relação parassocial é uma relação de mão única, na qual alimentamos uma falsa intimidade com uma celebridade. A regra é nenhuma reciprocidade. A palavra de ordem para relações assim é “desequilíbrio”.

O relacionamento parassocial ocorre de modo semelhante à paixão platônica. A diferença é que, na relação parassocial, o objeto de afeto sequer sabe quem somos.

Para cantores e artistas, a individualidade não é parte da plateia, pois participamos de um coletivo sem rosto.

Enquanto isso, tudo que temos sobre as celebridades é a onipresença de sua imagem. 

“É fácil projetar desejo em atores hétero, pois essa prática costuma ignorar suas sexualidades reais. Mas o debate só começa quando saímos das salas de cinema e atores gays continuam desempregados.”

Quando famosos se tornam símbolo, e não é a toa que os chamamos de ícones, nossa admiração pode virar adoração religiosa.

Enxame, série da Prime Video, trata do tema

Imagem: Amazon Studios/Divulgação.

Enxame é sobre uma fã obcecada que se torna violenta em sua perseguição por uma cantora.

A relação parassocial é um dos tratamentos mais interessantes da série. Com um elenco cheio de estrelas, Billie Eilish fez uma ponta que deu o que falar na Internet.

O fetiche do hétero na comunidade gay 

Quando heterossexuais fazem papeis gays, não vale declarar desconhecimento da prática de gays caidinhos por héteros. Ela está em todos os lugares na Internet.

Além do quê, embora ninguém pense que ficção é realidade, as histórias ficcionais representam a vida real num gesto político.

É fácil projetar desejos em atores hétero, pois essa prática ignora suas sexualidades reais. Mas o debate só começa quando saímos das salas de cinema e os atores gays continuam desempregados.

É claro que não faz sentido que apenas homossexuais interpretem outros homossexuais, mas também não dá pra fingir que a questão não é complexa.

Depois de anos de luta por nossos direitos de existir, será tão fácil assim perder oportunidades de trabalho, sendo essa a única forma de subsistência de tantos atores menos famosos do que Scott e Mescal?

Será que ele é: o mistério é lucrativo

Harry Styles, cantor britânico conhecido por hits como As It Were e ex-membro da boy band One Direction, chama atenção pela discrição.

Não faltam rumores de que seja bissexual, e há indícios de queerness no jeito como se veste. Ou pelo menos suas roupas atestam uma masculinidade atípica.

No entanto, Styles só é visto com mulheres, e os sinais de sua sexualidade misteriosa aumentam o engajamento com suas músicas. É assim que ele mantém uma atitude de neutralidade no debate acirrado da representação de identidades.

Inclusive, não há como negar os benefícios de se manter atrativamente indefinido. Não se perde o público feminino, nem o gay e, por vezes, nem o masculino-hétero. 

A universalidade é privilégio

Se atores hétero têm alcance no ciema e podem pegar papeis nos dois lados do espectro, o mesmo não se aplica para atores gays.

Outro agravante é a passabilidade hétero que muitos famosos conseguem transmitir.

Se Andrew Scott conseguiu um padre hétero e sexy de Fleabag, não se pode dizer o mesmo de Jim Parsons, por exemplo, o Sheldon de Big Bang: A Teoria.

Nesse sentido, a universalidade que os atores Paul Mescal e Andrew Scott mencionam soa distante da realidade da indústria.

Quando falamos em representatividade, será que estamos nos referindo a máscaras que qualquer um pode vestir?

Assuntos relacionados:

© 2024 Observatório G | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade